01 setembro 2006

Alvarenga - Arciprestado de Cinfães

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M GONÇALVES DA COSTA - HISTÓRIA DO BISPADO E DA CIDADE DE LAMEGO – LAMEGO 1979
II - Idade Média: Paróquias e Conventos
Capítulo XIV – Arciprestado de Cinfães
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6. Alvarenga, situada «subtus mons muro território Argano», foi lugar de passagem entre Castro Daire e a região de Arouca através da ponte romana que ligava as rias alcantiladas do rio Paiva. O topónimo radica possivelmente nos lígures Albiões, ou nos Lugones, recordados no lugar de Lucense, freguesia do Real, formado do radical Luc, como o lugar de Cabralonga recebeu o nome do gentílico pré-celta Cabruenga[1]. Aliás abundam os topónimos tanto de origem antiga como romana, de que citamos: Trancoso, Janarde (além-Paiva), Gamarão (Vamarão), Canelas (futura paróquia), Bustelo, Vila, Vilarinho, Vilar de Cervos, Paradinha, Casais, Quintela. Paço, Toural, Vila Galega, Cortegada, e os 3 ribeiros de Pelames, Sende e Ardena. No antigo cartório do mosteiro de Arouca guardava-se um documento onde se fazia referências aos pomares e vinhas de Alvarenga. A 25 de Junho de 1089 foi assinada uma escritura de doação àqueles monges duma herdade no sítio dos Carvalhais e Cortigata, na vila de Alvarenga, feita por Onega Ermiges, herdade que lhe ficou de seu marido Gavinho[2].
A jurisdição do julgado permaneceu na coroa até 1384, ano em que o concelho e homens bons pediram a D João I fizesse dela mercê a Rui Mendes de Vasconcelos, por ter sido da sua avoenga, ao que o rei acedeu, a 8 de Janeiro, reservando para si tão-só a correição e a alçada das apelações e agravos. Mais tarde, o mesmo monarca informou o novo donatário haver autorizado que os juízes e tabeliães das jurisdições de Alvarenga e Cabril «chamassem por ele»
[3]. A «sua avuenga» foi igualmente Joane Mendes de Vasconcelos, senhor da Torre do Paço, ou dos Alvarengas, casado com Dona Margarida de Eça, 3ª neta do infante D João (filho de Dona Inês de Castro), e de Dona Maria Teles de Meneses, irmã da rainha Dona Leonor Teles[4].*
Pinho Leal apresenta D Joane e Dona Isabel Pereira como pais de Mem Rodrigues de Vasconcelos, o herói da batalha de Aljubarrota, imortalizado por Camões no canto IV dos Lusíadas:

«Outro também famoso cavaleiro
Que a ala direita tem dos Lusitanos
Apto para mandá-los e regê-los
Mem Rodrigues se diz de Vasconcelos.»

El-rei D Manuel dirigiu também uma carta a João Mendes de Vasconcelos, fidalgo da casa do duque de Bragança, confirmando-lhe a doação feita a seus antecessores do juro e herdade da terra de Alvarenga. Couto nos começos da monarquia com a capital no lugar da Vila onde se ergue a matriz, subiu a concelho e mudou a sede para Trancoso onde, por 1520, se construiu a casa da Câmara e a cadeia da qual ainda restavam as paredes no fim do século XIX. Em frente levanta-se o pelourinho datado de 1590
[5]. D Manuel declarou no Foral, a 2 de Maio de 1514, que em Alvarenga não havia reguengos, nem maninhos, nem terras foreiras à coroa, achando-se apenas um casal tributário a Sanfins. O gado ao vento pertencia ao senhorio[6].
A intensa colonização romana manifestada nos numerosos fundos agrários permite-nos admitir cristandade antiga aliás confirmada em invocações como São Barnabé, em Janarde, São João Baptista, no lugar de Miudal, São Lourenço, em Bustelo. Contudo, a dedicação da igreja de Santa Cruz leva-nos a situar da Idade Média a organização da paróquia, com título de vigararia do convento de Cárquere que recebia os dízimos e apresentava o pároco. Na taxação de 1321, pagou 80 libras. A censória e a lutuosa pertenciam ao Cabido de Sé que, no século XIV, se viu envolvido em várias questões por causa da terça do peixe por ele reclamada. O vigário apresentava o cura na paróquia anexa de São Miguel de Canelas. Quanto à densidade demográfica, o censo de 1527 enumerou no concelho 138 moradores repartidos por diversos lugares, sendo os mais povoados o de Canelas, com 14; Chieira e Vila, com 12 cada; Trancoso, Paradinha; Cabanas, Soveral, com 11. O termo media 5 léguas por duas e meia
[7].

*Joane Mendes de Vasconcelos Senhor de Alvarenga casou com D Margarida de Eça que era
tetraneta de D Inês de Castro e sobrinha-trineta de D Leonor Teles de Menezes.

D Inês de Castro, 1º ramo de ascendentes de Joane Mendes de Vasconcelos, Senhor de Alvarenga

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D Martim Afonso Telo de Menezes, pai de D Leonor Teles, 2º ramo de ascendentes de Joane Mendes de Vasconcelos, Senhor de Alvarenga

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Ascendentes do 1º e 2º ramos de Joane Mendes de Vasconcelos, Senhor de Alvarenga

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Notas de roda pé

[1] P. Manique e Albuquerque, Tribos, pp. 9-10.
[2] Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno, IX, pp. 709-711; Lusitânia Sacra, IV, p. 292.
[3] Livro 1º da Beira, f. 139 v, 140: Livro 2º da Beira, f. 133 v; Chanc. de D Afonso V, f. 181.
[4] Sousa, História Genealógica, 13, p 658; D Joaquim de Azevedo, Historia Ecclesiastica, p 125.
[5] Livro 3º da Beira, f 22-22 v; Pinho Leal, ob e loc. Cit. A carta de D Manuel tem a data de 29 de Abril de 1509.
[6] Dias, Forais, p 138. Não consta do foral de D Dinis, de 1298, mencionado pelo Padre Carvalho da Costa.
[7] Cadastro, pp 148-149.

Bibliografia
M GONÇALVES DA COSTA - HISTÓRIA DO BISPADO E DA CIDADE DE LAMEGO – LAMEGO 1979

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