12 setembro 2006

Alvarenga - Igreja de Santa Cruz de Alvarenga, século XI

  • Enquadramento (Texto da DGEMN)
    Rural, isolado. Implanta-se em encosta de pendor suave dominando ampla área de agricultura; adro murado desnivelado com pavimento em calçada. Limitado a E pelo cemitério em plataforma elevada, coreto a SE, casa paroquial a NO e cruzeiro diante da fachada principal.
  • Descrição (Texto da DGEMN)
    Planta longitudinal, composta por nave única, capela-mor e sacristia adossada do lado S., volumetricamente distintas, com coberturas diferenciadas em telhados de 2 águas, aos quais se une à direita, a S., ligeiramente recuada em relação ao plano da frontaria, torre sineira quadrangular coberta com coruchéu. Fachada principal flanqueada por pilastras com portal único encimado por janela do coro gradeada, vãos rectangulares simples; entre os dois vãos existe uma pedra com inscrição delida; na empena, cornija, pináculos de remate piramidal com esfera sobre os cunhais e cruz no vértice. Torre sineira de dois registos com pilastras nos ângulos, sobrepostas de friso e cornija; no registo superior, um único vão de arco redondo em cada face; pináculos de remate bulboso nos ângulos e coruchéu. Fachadas laterais com cornija de cantaria sendo a da capela-mor de secção quadrada saliente e apoiada em cachorrada constituída por modilhões simples, dispostos irregularmente. Na da direita, escada de acesso ao coro alto e à torre implantada longitudinalmente, vãos rectangulares simples em duas janelas e uma porta travessa na nave, uma fresta no corpo da sacristia e uma janela na capela-mor. Na fachada lateral esquerda uma porta no corpo da nave, e na capela-mor tem uma estreita fresta, uma janela e outra porta junto aos ombros; os cunhais da nave são coroados por pináculos piramidais com remate em esfera e as empenas levantadas, elementos que estão ausentes na capela-mor. Interior com coro-alto resguardado por balaustrada de madeira; pavimento de madeira e lambril de azulejos de tapete industriais; púlpito sem escada, colocado do lado do Evangelho, com bacia de pedra moldurada apoiada numa mísula em quarto de coroa circular e parapeito de madeira entalhada e dourada; na parede oposta, arcosólio de arco quebrado de arestas chanfradas cavado na parede já sem caixa tumular e com a parte superior cortada; arco triunfal com pilastras de impostas salientes e dois arcos retabulares simples nos flancos; na capela-mor, pavimento de madeira no 1º terço seguido de patamar em granito com escadaria encaixada ao centro de 2 degraus; as paredes mostram as cantarias não rebocadas com vestígios de pinturas do lado esquerdo não se identificando completamente os motivos; do lado direito, sob a fresta, dois nichos postos a par de recorte em arco quebrado. Retábulos colaterais e sanefas de talha, branco e ouro. Na nave e na capela-mor, e as coberturas internas são curvas e lisas em madeira pintada mostrando tirantes na nave.
  • Cronologia (Texto da DGEMN)
    1094 - Doação de uma parte da igreja ao mosteiro de Arouca;
    séc. XIII e XIV - Fábrica gótica que se conserva na capela-mor e junto aos ombros da nave; séc. 18, meados - reforma geral do edifício com ampliação da capela-mor e da nave;
    1785 - Referência ao estado de ruína da igreja onde existiam quatro monumentos funerários sendo um da Casa dos Montenegros, outro dos Casais e de Tondela, não se identificando os restantes;
    1788 - No Inquérito Diocesano refere-se o estado de ruína da igreja;
    séc. XVII, fins - Projecto de construção de uma nova igreja no Penedo, que não chega no entanto a concretizar-se;
    séc. XIX, fins/séc. 20, inícios - Não se tendo realizado outro projecto de construção de nova igreja na Corredoura, opta-se pela reforma geral da existente com substituição do arco triunfal, alteamento dos corpos da nave e da capela-mor, construção da torre sineira e de nova frontaria: construção da torre sineira por Nicolau Martins, galego, pela quantia de 220.000 réis em 1906 e alteamento das paredes da igreja em 1907;
    séc. XX, inícios - construção do cemitério paroquial no Campo da Cruz, onde estava o cruzeiro nessa data deslocado para o adro, diante da fachada principal da igreja, localização que mantém actualmente; 1937 - data inscrita no patamar do altar-mor;
    1941, 8 de Dezembro - data inscrita sob o mostrador do relógio da torre.
  • Tipologia (Texto da DGEMN)
    Arquitectura religiosa, gótica e barroca. Igreja paroquial de origem gótica com planta longitudinal de nave única e capela-mor ampliadas no comprimento pela reforma barroca, que lhe acrescentou ainda a sacristia do lado direito. A igreja foi também alteada por reforma ecléctica que lhe adossou igualmente torre sineira quadrada junto da frontaria; cachorrada constituída por modilhões simples; arcossólio em arco quebrado de arestas chanfradas.
  • Características Particulares (Texto da DGEMN)
    Dois nichos de recorte em arco quebrado postos a par na capela-mor, destinado um a sacrário e o outro para guarda do missal; a parede interior esquerda da capela-mor tem vestígios de pintura mural; fachadas laterais da nave com diferente organização dos vãos; a torre sineira é ligeiramente recuada em relação ao plano da fachada principal.
  • Dados Técnicos (Texto da DGEMN)
    Paredes autoportantes.
  • Materiais (Texto da DGEMN)
    Granito (cantarias), telha marselha, azulejos, madeira (portas, caixilhos, retábulos, pavimento e coberturas internas)

11 setembro 2006

Alvarenga - Datas históricas

.110 Os romanos constroem uma ponte em Alvarenga, feita pelo mesmo mestre-pedreiro da ponte de Alcântara em Espanha

.708 Possível data da construção da Igreja de Alvarenga

1068 Referência de uma cidade de Alvarenga

1084 Referência ao concelho de Santa Cruz de Alvarenga

1094 Invocação da Igreja de Alvarenga à Santa Cruz

1100 Padroado da Igreja de Santa Cruz de Alvarenga na posse de D Egas Moniz “O Aio”

1139 Afonso Viegas “O Moço”, filho de D Egas Moniz, como Senhor de Alvarenga

1140 Couto da Comarca de Lamego

1146 Após a morte de D Egas Moniz o Padroado de Alvarenga passa para Cárquere

1298 Primeiro Foral de Alvarenga, por D Dinis

1381 A família dos Senhores de Alvarenga une-se por casamento à família dos da Torre de Vasconcelos

1514 Foral Novo por D Manuel I

1519 D Manuel I confirma o Senhorio de Santa Cruz de Alvarenga à família Vasconcelos sendo o seu Senhor Joane Mendes de Vasconcelos

1520 Alvarenga é elevada a Comarca, transferindo-se a sua capital para o lugar de Trancoso, onde passa a existir a Casa da Câmara e a Cadeia

1579 O Padroado de Alvarenga passa para a posse dos Jesuítas

1579 Bernardo de Vasconcelos é o novo Morgado de Santa Cruz de Alvarenga

1590 Reconstrução do Pelourinho de Trancoso, datando-o

1648 União da Casa do Paço à do Conde de Paiva

1706 Canelas desanexa-se de Alvarenga

1708 O Concelho de Alvarenga pertence à Coroa Portuguesa

1774 O Padroado de Alvarenga passa para a Universidade de Coimbra

1809 Edificação da Casa da Câmara com escudo de Armas do Reino

1809 Terá sido desanexada a freguesia de Janarde pois há notícia do seu primeiro Pároco

1822 O Concelho de Arouca é desanexado de Lamego

1836 Extinção do Concelho de Santa Cruz de Alvarenga

05 setembro 2006

Alvarenga - Fotografias

Fotografias de Alvarenga

Casa do Paço, onde viveram os Senhores da Honra de Alvarenga, descendentes de Egas Moniz aio de D Afonso Henriques

Ponte de Vilarinho

Casa com uma alminha, no lugar de Vila Nova

Vista do vale do rio Paiva

Vista do planalto de Alvarenga

Menir da Jugada


Cascata das Aguieiras, deste ponto precipitam-se todas as águas de Alvarenga para o rio Paiva num desnível de 200m


Caminho do Fundo-da-Vila, cabra comum na região

01 setembro 2006

Alvarenga - Como lá chegar partindo de Lisboa

Lisboa - Alvarenga, distância 340km:

  1. Lisboa
  2. Estarreja
  3. Oliveira de Azemeis
  4. Vale de Cambra
  5. Arouca
  6. Alvarenga

1- Lisboa seguir pela A1 em direcção ao norte até ao km 257, sair na Saida 17 que diz:

  • Convento de Arouca
  • Ovar
  • Estarreja
  • Oliveira de Azemeis
2- 100m depois das portagens há uma rotunda, virar à direita seguindo pela N224 na direção de:
  • Oliveira de Azemeis
  • Loureiro
    seguir até ao fim da N224 (8km)

3- No fim da N224 há uma rotunda, seguir a indicação do IC2

  • Oliveira de Azemeis
  • Vale de Cambra
  • Vale de Cambra
  • Arouca

4- Andam-se uns kms e chega-se a uma rotunda que tem umas letras que dizem VALE DE CAMBRA escritas no chão da rotunda e seguir a direcção de:

  • Arouca

poucos metros à frente há uma 2ª rotunda virar à esquerda onde diz:

  • Vale de Cambra
  • São PEdro do Sul
  • Arouca

segue-se pelo centro de Vale de Cambra até a uma última rotunda com uma estátua e vira-se à esquerda
e depois à direita já com a indicação de AROUCA, que é seguir sempre em frente

5- Andam-se uns 25 km até Arouca

aqui ao chegar-se ao topo de uma avenida onde está a Câmara Municipal de Arouca

a estrada bifurca, seguir a direcção de ALVARENGA que fica a 20km

boa viagem

Alvarenga - Foral de D Manuel

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FORAL DE ALVARENGA
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LIMA BAPTISTA - TERRAS PORTUGUESAS I - II, pp 131 - 133
Memória Sobre os Forais - Relação Primeira
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Alvarenga - Dado em Lisboa a 2 de Maio de 1514. Livro de Forais Novos da Beira, folhas 99, coluna I.
"Freguesia de Arouca. Foi concelho na Beira, com juiz ordinário na comarca, provedoria e diocese de Lamego; donatária a coroa (1811). Em 1762 era concelho na correição de Lamego. Em 1821, concelho na Beira, da divisão eleitoral e comarca de Lamego, com 3 freguesias, 345 fogos e 1:677 habitantes; em 1826, concelho na província e comarca, com 2 frguesias (Alvarenga, 247 fogos, e Canelas, 58). Em 1835 era concelho no julgado de Castro de Aire, Beira Alta; em 1842, freguesia do concelho de Arouca. A outra freguesia do antigo concelho de Alvarenga, em 1821 e com cerca de 40 fogos, julgo ter sido Janarde, que era do termo de Alvarenga no século 18º e em 1842 aparece como freguesia do concelho de Arouca, com 38 fogos.
O censo da população, de 1920, deu 2:564 habitantes à freguesia de Alvarenga.
O DIcionário de A. Costa apenas aponta 2 freguesias à antiga vila de Alvarenga, como assim as tinha, este concelho em 1826. Padre Cardoso deu-lhe 261 vizinhos, quando devem ser 261 fogos.
P. Cardoso diz que aqui está a torre do solar dos Alvarenga. Porêm, o Dicionário "Portugal" conta-nos que o solar dos fidalgos deste apelido era na província de Entre Douro e Minho. Certamente, há confusão com Alvarenga de Lousada, pois Vilas-Bôas e Sampaio cita-nos Alvarenga da Beira, e Lousada nunca foi desta província.
Note-se que, por ser senhora deste concelho, foi nele que tomou o apelido, esta família, descendente do famoso Egas Moniz.
Em Alvarenga é o rio Paiva atravessado por célebre ponte dum só arco, com 30 metros de altura e 20 de largo no vão. Assenta sobre dois rochedos, um em cada margem; [...]
Alvarenga está situada num vale; mas é provável que sua primitiva fundação fosse em logar elevado. Alvarenga também se chama a serra cuja encosta assenta a povoação, que, segundo P. Leal, já existia no princípio da nacionalidade portuguesa.
P. Leal informa que D Denís deu foral à vila, em 1298; que foi primeiro couto e depois concelho, suprimido pelo decreto de 24 de Outubro de 1855.
Franclim não fala deste foral; só do de 1514. Se foi couto, o foral de 1298 não passaria duma carta de doação; couto não era à data do foral manuelino. Alvarenga não foi concelho extinto em 1855, porque já em 1842 nos aparece como simples freguesia de Arouca.
Em 1340 - diz P. Leal - se deu sentença no julgado de Alvarenga, a favor do Mosteiro de Alpendurada, mantendo-o na posse de receber o direito de condado no monte da Rocha.
Há algumas povoações com o nome Alvarenga, as quais, provalvelmente, o tomaram dos fidalgos do mesmo apelido; assim se dá com a herdade de Vila Fernando (Elvas).
É interessante saber-se que em Espiunca há o logar Alvariça.
O foral Manuelino de Alvarenga, no livro da Beira, está registado depois do de Penajóia, seguindo-lhe o de Armamar.
é de notar que Alvarenga foi concelho e não vila; prova-se que era um conjunto de logares e não vila Acastelada, ou grande centro urbano. O nome era comum a todo o concelho e não aplicado a determinada povoação, como o é hoje à freguesia. Daqui nasce a hipótese de que o concelho tomou o nome da serra ( que ainda se chama Alvarenga), ou esta o recebeu de povoação serrana que assim se denominava em tempos idos.
Certo é que, no cadastro de 1527, figura na Beira o concelho de Alvarenga, com 138 moradores; citam-se, ali, diversos logares, mas não se indica qual deles é a cabeça do concelho.
Depois de Canelas, o logar mais importante (com 12 moradores) era o da Chieira e Vila.
Parece ser o logar de Vila a sede do concelho, visto não se determinar qual o nome próprio dessa vila. Teria sido ela a antiga Alvarenga?"
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Foral de Alvarenga dado por
D Manuel em Lisboa a 2 de Maio de 1514
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  1. Forall dado no Cº dalvarenga
  2. Dom manuel I
  3. Adita terra nom ouve ne[m]
  4. ha rreguengos nem ter
  5. ras foreiras anos E per
  6. comseguinte nam se pa
  7. gam nellas foros nehu[n]s ao senhor
  8. rio dadita terra somente ha nadita
  9. terra hu[m] casal nosso que se chama
  10. rreguengo anexo e tributario da
  11. nossa terra desam finz oquall ora
  12. traz vasquo alvarez e gomcallo
  13. pirez e lapagam seu foro ao senho
  14. rio dos dereitos desam finz. naq[ue]ll[a]
  15. terr[a] o senhorio da jur[is]diça[m] della tem
  16. casaaes e dereitos pat[r]imoniaes de q[ue]
  17. Recebe seu dereito segumdo se com
  18. certa com as partes segumdo sam
  19. emprazados per suas escripturas
  20. e aforamentos como coisa prop[ri]a
  21. E nesta dita terra temos moestei
  22. ros darouca e de carquere e outras
  23. Igrejas, casaaes de que ham seus
  24. foros segumdo suas sprituras e
  25. aforamentos. E o senhorio da
  26. dita terra tem somente nella o gado
  27. dovemto quamdo se perder seguindo
  28. nossa ordenaçam. E o mais como
  29. lamego. E nom hay maninhos
  30. na dita terra por que seram dos ca
  31. saaes em cujas saidas esteuerem
  32. e dos montados ffara o comçe
  33. lho com seus comarcaaos como qui
  34. ser como cousa sua q[ue] outra pessoa
  35. nam tem dereito. E assy tem a
  36. portagem na forma seguimte
  37. E assy apena darma de que
  38. levara duzemtos Reaaes e as
  39. armas com decraraçam. E o
  40. mais deste capitollo. E a portage[m]
  41. E a pena do foral he tal como la
  42. mego. dada na nossa muy no
  43. bre e sempre leal cidade de lixboa
  44. aos dous dias do mes de mayo
  45. era do nacimento de nosso senhor
  46. jhu xpo de mill quinhentos e
  47. q[ua]torze annos. E sobsprito pello
  48. dito fernam de pina. Em x folhas.

Transcrição do documento feita por Coronel Polainas

Este foral foi dado por D Manuel I ao concelho de Alvarenga
A dita terra não teve, durante anos, nem tem, reguengos nem terras foreiras, e por conseguinte não se pagam nelas foros nenhuns ao senhorio da dita terra.
Há somente um casal que se chama reguengo anexo e tributário da nossa terra de Sanfins o qual é agora explorado por Vasco Alvares e Gonçalo Pires que pagam foro ao senhorio dos direitos de Sanfins.
Naquela terra o senhorio da sua jurisdição tem […] patrimoniais de que recebe o que lhe é devido segundo se concertou (celebrou) com as partes conforme se prova nas escrituras e aforamentos.
E nesta dita terra temos os mosteiros de Arouca e Cárquere e outras igrejas, casais de que têm foros segundo as suas escrituras e aforamentos.
Também segundo nossa ordenação, o senhorio da dita terra apenas tem nela direito ao gado do vento quando se perder e o mais como acontece com Lamego.
E não há maninhos (terrenos baldios) porque passam a ser dos casais contíguos.
Relativamente aos limites dos montados fará o concelho como entender pois só a ele isso competir.
E assim tem a portagem na forma seguinte:
[…] e a portagem e a pena do foral é tal como em Lamego.
Este foral foi dado na nossa muito nobre e sempre leal cidade de Lisboa aos dois dias do mês de Maio da era do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil quinhentos e catorze anos.
E estas folhas foram subscritas pelo dito Fernão de Pina

Transcrição para português actual feita por General Alvarenga

Alvarenga - Memórias Paroquiais 1758

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MEMÓRIAS PAROQUIAIS 1758
Levantamento de Portugal mandado fazer por D José após o terramoto de 1755
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Alvarenga C. Lamego nº 37 fl. 293 (619, rasurado)
Satisfazendo huma Ordem do Exm.º Sr. Bispo de Lamego respondendo pellos itens do folheto
1º A freguezia de Alvarenga fica na provincia da Beira alta, pertence ao Bispado e Comarca de Lamego, e termo do mesmo de Alvarenga, a invocação de Sancta Cruz; e Concelho he da Coroa

2º O Senhorio que aprezenta a Igr.ª são os padres da Companhia do Colegio de Coimbra a quem pertencem os dizimos, exceto a terça parte que hé do cabido de Lamego.

3º Tem vezinhos, ou fogos duzentos, e secenta e oito e contem em si pessoas Mayores, e Menores mil e cento e quarenta e oito.

4º Está situada em hum valle cercado de serras altas e não se descobre povoação mais alguma.

5º Tem termo seu o mesmo de Alvarenga comprehende vinte, e três Lugares a saber Donim, Bouças, Louride, Cham, Cortegada, Villa, Miudal, Varzeas, Villagallega, Villanova, Carreiros, Bustellos, Noninha, Vilar de Cervos, Sobral, Metris, Cortegaça, Sylveiras, Telhe, Carvieiro, Ianarde, Paradinha, Cabanas Longas, e todos estes tem o numero dos vezinhos a sima declarados, estes lugares a sima são da freguezia de Sancta Cruz de Alvarenga, e pertence ao mesmo termo mais seis lugares, a saber, Canellas, Toural, Gamaram, Mialha, Villarinho, Pardelhas, estes sam da freguezia de S. Miguel de Canellas, anexo ha de Sancta Cruz de Alvarenga.

6º A Paroquia esta quasi mista ao lugar da villa a freguesia comprehende os lugares de declarados no quinto item que são os vinte e tres.

7º O Orago de Sancta Cruz, tem tres altares a saber um Mayor do Santissimo Sacramento os colateraes, hu[m] do Senhor I. H. S., e o outro de N. Senhora do Rozario, não tem naves, e tem huma Irmandade das Almas.

8º O Parrocho de Rector perpetuo por aprezentação dos Rector do Collegio das artes da companhia de Coimbra terá de renda cento e sincoenta mil reis.

9º Tem hum Beneficeado, data do Pontífice, terá de renda oitenta mil reis

10º. 11º. 12º Não comprehenda nada do 10. 11. 12 Itens

13º Tem Ermidas a saber, S. Lourenço sita junto ao lugar de Bustello; N. S. do Monte, sita no alto de hu[m] monte; S. Bernabe, sita no lugar de Ianarde, S. Barbara sita no lugar de Sylveiras, S. Antonio, sita em hu monte fora do lugar, S. Theago sita junto a Igr.ª, estas todas sam do Povo, particulares S. Francisco sita na Villa de Alvarenga, hé de Caetano Luís de Barros, S. Ioão Bautista sita junto ao lugar de Miudal, hé de Pedro Mendes Tristam; N. Senhora de Concepção sita no lugar de Miudal hé de Manoel Bernardo Freyre de Andrade; N. Senhora do Desterro sita nos lemites da Vª de Alvarenga hé de António Caetano Montenegro Caza Solar dos Alvarengas, em cujo patio está. S. Iose sita no lugar de Varjeas, hé do Padre Iose de Moraes.

14º Acode romagem, a ermida de N. Senhora do Monte a oito de Setembro, e a S. Lourenço des de Agosto, e a S. Antonio a treze de Iunho.

15º Os frutos da terra, que recolhem os labradores são vinho verde, senteio, milham, e milho miudo com pouca abundancia.

16º Tem Iuiz ordinario que tambem serve dos Orfaos, e Camera estão sogeitos ao Corredor da Comarca. He cabeça de Concelho, e não he couto.

18º Da caza dos Solares há tradição que sahiu o Montenegro insigne em armas.

19 Tem feira todos os mezes os sinco ao pe da Ermida de S. Antonio de cativa.

20 Nam tem correio servemce do de Arouca que dista duas legoas.

21 Dista da Cid.e Capital de Lamego sete legoas, e da de Lisboa Capital do Reyno sincoenta e duas legoas.

22.23.24, Não comprehende os itens 22, 23, 24.

25 Tem huma torre antiga Solar dos Alvarenga Ahonde asiste Antonio Caetano Montenegro

26 Não padeceu ruina alguma com o terremoto. O que tem mais que não comprehende os interrugatorios hé que no meio da serra da Franqueira nasce hum rio de pouca memoria e passa pello lugar de Noninha, e continua seu curso junto ao lugar de Bustello, e no fundo das terras do dº lugar hé tradição nesta terra de Alvarenga que seus habitadores, tiraram a agoa do tal rio em huma noute, por recearem que os habitadores do Valle de Nespereira lho impedice(m); e chamace o tal rego o Rego do boi por sedizer que comeram hum boi na noute que a tiraram, dista desta terra de Alvarenga hum quarto de legoa, isto hé o aqueduto, e aoseu nascimº de quasi huma legoa, fertiliza este valle com agoa, que hé o que a faz fertil de pam e vinho, e com a mesma agoa ao mesmo tempo fas moer vinte e tres moinhos tanto no veram como no Inverno.

Não tem serras dignas de memorias nem nesta terra nasce rio algum, so sim junto della, e por seu termo passa hu[m] rio chamado Paiva, que nasce junto a Senhora da Lapa, que distará des legoas, he innavegavel por ser seu curso m(uito) arebatado, e passar por terras fragozas, hé abundantissimo de bogas, barbos de bom tamanho, bordallos, heiroes, e trutas tudo deficil de se pescar por ter possos m[uito] altos e fragozos, não tem pontes ao prezente que huma que tinha com seu arebatado cursso, a levou

E não tem singularidades que se possa contar que atellas sederiam, nem que comprehende os mais interrogatorios contheúdos no folheto
O Reytor Luis Vieira Tristao

Bibliografia

Dicionário Geográfico - Volume 3 - Memória Paroquial 37 - Páginas 293 a 296 - Microfilme 285

Alvarenga - Arciprestado de Cinfães

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M GONÇALVES DA COSTA - HISTÓRIA DO BISPADO E DA CIDADE DE LAMEGO – LAMEGO 1979
II - Idade Média: Paróquias e Conventos
Capítulo XIV – Arciprestado de Cinfães
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6. Alvarenga, situada «subtus mons muro território Argano», foi lugar de passagem entre Castro Daire e a região de Arouca através da ponte romana que ligava as rias alcantiladas do rio Paiva. O topónimo radica possivelmente nos lígures Albiões, ou nos Lugones, recordados no lugar de Lucense, freguesia do Real, formado do radical Luc, como o lugar de Cabralonga recebeu o nome do gentílico pré-celta Cabruenga[1]. Aliás abundam os topónimos tanto de origem antiga como romana, de que citamos: Trancoso, Janarde (além-Paiva), Gamarão (Vamarão), Canelas (futura paróquia), Bustelo, Vila, Vilarinho, Vilar de Cervos, Paradinha, Casais, Quintela. Paço, Toural, Vila Galega, Cortegada, e os 3 ribeiros de Pelames, Sende e Ardena. No antigo cartório do mosteiro de Arouca guardava-se um documento onde se fazia referências aos pomares e vinhas de Alvarenga. A 25 de Junho de 1089 foi assinada uma escritura de doação àqueles monges duma herdade no sítio dos Carvalhais e Cortigata, na vila de Alvarenga, feita por Onega Ermiges, herdade que lhe ficou de seu marido Gavinho[2].
A jurisdição do julgado permaneceu na coroa até 1384, ano em que o concelho e homens bons pediram a D João I fizesse dela mercê a Rui Mendes de Vasconcelos, por ter sido da sua avoenga, ao que o rei acedeu, a 8 de Janeiro, reservando para si tão-só a correição e a alçada das apelações e agravos. Mais tarde, o mesmo monarca informou o novo donatário haver autorizado que os juízes e tabeliães das jurisdições de Alvarenga e Cabril «chamassem por ele»
[3]. A «sua avuenga» foi igualmente Joane Mendes de Vasconcelos, senhor da Torre do Paço, ou dos Alvarengas, casado com Dona Margarida de Eça, 3ª neta do infante D João (filho de Dona Inês de Castro), e de Dona Maria Teles de Meneses, irmã da rainha Dona Leonor Teles[4].*
Pinho Leal apresenta D Joane e Dona Isabel Pereira como pais de Mem Rodrigues de Vasconcelos, o herói da batalha de Aljubarrota, imortalizado por Camões no canto IV dos Lusíadas:

«Outro também famoso cavaleiro
Que a ala direita tem dos Lusitanos
Apto para mandá-los e regê-los
Mem Rodrigues se diz de Vasconcelos.»

El-rei D Manuel dirigiu também uma carta a João Mendes de Vasconcelos, fidalgo da casa do duque de Bragança, confirmando-lhe a doação feita a seus antecessores do juro e herdade da terra de Alvarenga. Couto nos começos da monarquia com a capital no lugar da Vila onde se ergue a matriz, subiu a concelho e mudou a sede para Trancoso onde, por 1520, se construiu a casa da Câmara e a cadeia da qual ainda restavam as paredes no fim do século XIX. Em frente levanta-se o pelourinho datado de 1590
[5]. D Manuel declarou no Foral, a 2 de Maio de 1514, que em Alvarenga não havia reguengos, nem maninhos, nem terras foreiras à coroa, achando-se apenas um casal tributário a Sanfins. O gado ao vento pertencia ao senhorio[6].
A intensa colonização romana manifestada nos numerosos fundos agrários permite-nos admitir cristandade antiga aliás confirmada em invocações como São Barnabé, em Janarde, São João Baptista, no lugar de Miudal, São Lourenço, em Bustelo. Contudo, a dedicação da igreja de Santa Cruz leva-nos a situar da Idade Média a organização da paróquia, com título de vigararia do convento de Cárquere que recebia os dízimos e apresentava o pároco. Na taxação de 1321, pagou 80 libras. A censória e a lutuosa pertenciam ao Cabido de Sé que, no século XIV, se viu envolvido em várias questões por causa da terça do peixe por ele reclamada. O vigário apresentava o cura na paróquia anexa de São Miguel de Canelas. Quanto à densidade demográfica, o censo de 1527 enumerou no concelho 138 moradores repartidos por diversos lugares, sendo os mais povoados o de Canelas, com 14; Chieira e Vila, com 12 cada; Trancoso, Paradinha; Cabanas, Soveral, com 11. O termo media 5 léguas por duas e meia
[7].

*Joane Mendes de Vasconcelos Senhor de Alvarenga casou com D Margarida de Eça que era
tetraneta de D Inês de Castro e sobrinha-trineta de D Leonor Teles de Menezes.

D Inês de Castro, 1º ramo de ascendentes de Joane Mendes de Vasconcelos, Senhor de Alvarenga

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D Martim Afonso Telo de Menezes, pai de D Leonor Teles, 2º ramo de ascendentes de Joane Mendes de Vasconcelos, Senhor de Alvarenga

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Ascendentes do 1º e 2º ramos de Joane Mendes de Vasconcelos, Senhor de Alvarenga

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Notas de roda pé

[1] P. Manique e Albuquerque, Tribos, pp. 9-10.
[2] Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno, IX, pp. 709-711; Lusitânia Sacra, IV, p. 292.
[3] Livro 1º da Beira, f. 139 v, 140: Livro 2º da Beira, f. 133 v; Chanc. de D Afonso V, f. 181.
[4] Sousa, História Genealógica, 13, p 658; D Joaquim de Azevedo, Historia Ecclesiastica, p 125.
[5] Livro 3º da Beira, f 22-22 v; Pinho Leal, ob e loc. Cit. A carta de D Manuel tem a data de 29 de Abril de 1509.
[6] Dias, Forais, p 138. Não consta do foral de D Dinis, de 1298, mencionado pelo Padre Carvalho da Costa.
[7] Cadastro, pp 148-149.

Bibliografia
M GONÇALVES DA COSTA - HISTÓRIA DO BISPADO E DA CIDADE DE LAMEGO – LAMEGO 1979

31 agosto 2006

Alvarenga - Prospecção Arqueológica no Baixo Paiva

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PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA NO BAIXO PAIVA
ALVARENGA (AROUCA, AVEIRO)
RESULTADOS DA 1ª CAMPANHA
OUTUBRO 2005 - JANEIRO 2006
Artigo publicado sob autorização da Associação BioAlva©
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No cumprimento dos seus fins, a BioAlva tem efectuado frequentes saídas de prospecção arqueológica, tomando como principais fontes a tradição oral e informações publicadas desde o início do século XX, por autores como Madureira (1907), Mendes (1995) e Barroca (2003). Mais recentemente, a publicação da Carta Arqueológica de Arouca, coordenada por António P. Silva e publicada pela Câmara Municipal de Arouca em 2004, trouxe mais algumas informações relativas à freguesia de Alvarenga.
Numa das prospecções efectuadas, como acima se referiu, a BioAlva descobriu, em 31 de Outubro de 2005, no Monte de Baixo, num local referenciado pela população como Côto do Carvalhal, vestígios de ocupação humana, datada, de acordo com os materiais arqueológicos recolhidos à superfície, de entre o Bronze Final e a Alta Idade Média, aqui com particular destaque para o período entre os sécs. X a XII. Tal sítio, localizado a meia encosta, não coincide com a descrição feita por António P. Silva sobre um outro que denominou Castelo de Carvalhais e que este autor implantou em cabeço de forma cónica, na vertente oposta àquela a que nos referimos. Poderá, contudo, coincidir com o local onde foram feitos os achados relatados por Madureira e publicados em 1907. Segundo aquele autor “Haverá approximadamente 60 e tantos annos que alguns individuos ali foram procurar thesouros de mouros e encontraram n’aquellas ruinas pás de ferro e outros objectos do mesmo metal, pequenas rodas de barro, um fôrno, que no correr dos annos se havia sumido na terra, etc.” (in Gazeta de Arouca, n.º 78, 17 de Fevereiro de 1907).
Este sítio arqueológico, posto recentemente a descoberto devido à abertura de um caminho de serventia ao plantio de eucaliptos, relaciona-se certamente com estruturas visíveis na margem esquerda do rio Paiva, podendo todo este conjunto ter estado directamente ligado com a hipotética localização da “ponte velha”, assim designada pela população e referida por alguns autores como datando de 110 d.C., durante o período do imperador romano Trajano. Tal ponte teria sido destruída por uma forte enchente do Paiva no séc. XIV e dela desconhece-se a localização exacta.
Os materiais arqueológicos supramencionados são constituídos por fragmentos de cerâmica, entre os quais se contam bordos, asas e fundos, assim como cerâmica decorada com incisões e cordões digitados, que se assemelham a materiais provenientes de outros sítios arqueológicos de características comparáveis (Rodrigues e Rebanda, 1992). Entre as peças cerâmicas contam-se ainda uma tampa (N.º 8) e marcas de jogo (n.º 7), assim como o que parece ser um fragmento de uma pequena taça mamilada de cronologia tardo-romana (n.º 1).


Peça nº 8


Peça nº 7


Peça nº 1

De entre estes destacam-se ainda peças que se apresentam decoradas de acordo com um mesmo padrão: duas linhas paralelas incisas, intercaladas em bandas com ondas ou ziguezagues simétricos e em alguns casos assimétricos, como é o caso da peça n.º 11, com paralelos nas panelas de fase I do Castelo de Curiel (Peñaferruz, Gijón) integrável em cronologia pertencente ao séc. XII. Os restantes fragmentos, todos pertencentes a bojos ou panças, independentemente da espessura, repetem a mesma tipologia decorativa (n.ºs 9, 10, 12 e 13).

Peça nº 11

peça nº 9


Peça nº 10


Peça nº 12


Peça nº 13

O exemplar do Côto do Carvalhal n.º 16 encontra paralelos nos alguidares ou taças de fundo em disco provenientes de São João de Valinhas (Sta Eulália, Arouca) atribuídos aos séculos XI-XII. A peça n.º 17 deverá fazer parte da anterior.


Peça nº 16


Peça nº 17

As pastas são maioritariamente resultado de cozedura redutora, com uma minoria de peças provenientes de cozedura oxidante. A tipologia varia entre as peças de acabamento grosseiro, com elementos não plásticos de grão médio a grosso, mal acabadas e excessivamente queimadas, e as peças de espessura mais fina, que apresentam elementos não plásticos de grão fino a médio, acabamento cuidado e em alguns casos vestígios de brunido ou alisamento exterior.
São ainda de salientar os numerosos vestígios de escória de fundição (de primeira e segunda extracções, nomeadamente escória vítrea de sangria de forno).


Escória de fundição

Alguns artefactos líticos: um movente, um polidor.

Movente

Polidor

Alguns cossoiros (nºs 3 e 4), um cossoiro inacabado (N.º 6), um possível peso de tear (N.º 5) e um fragmento de lâmina ou raspador em sílex
[1].


Peça nº 3



Peça nº 4
Peça nº 6
Peça nº 5

Este sítio arqueológico enquadra-se assim, em nosso entender, no sistema defensivo existente desde o século IX, na linha de fronteira entre os reinos cristão e muçulmano.


Esta era bastante flutuante, como é sabido, mas adjacente aos limites do rio Douro; de facto, a predominância do reino de Leão e das Astúrias sobre este território coincide com o destacamento, no final do século X, de nobres provenientes de outros reinos do centro da Europa, que teriam vindo em auxílio das forças reais leonesas durante a Reconquista. Falamos dos ascendentes do aio Egas Moniz, originários da Gasconha, e do pai e tio de Afonso Henriques, o conde D. Henrique e seu irmão, D. Raimundo, vindos da Borgonha. Deste modo, a ligação a Leão seria bastante evidente. A linhagem dos Alvarengas descende, exactamente, de um dos filhos da casa dos senhores de Ribadouro, D. Egas Moniz, o Aio, pelo seu casamento com a filha de Afonso VI, rei de Leão, tornando-se os seus descendentes ainda os senhores da Honra de Alvarenga (ver anexo 1).
Do ponto de vista morfológico, o sítio corresponde aos castelos roqueiros existentes quer na região quer, como já referimos, na zona asturiana de Gijón, perdendo a importância que teria tido com a conquista definitiva de territórios aos muçulmanos e com a consequente implantação cristã na região. A mudança administrativa decretada por D. Dinis, que teria concedido àquela cidade (Alvarenga foi sede de concelho até 1836) o seu primeiro foral em 1298, e no decurso da qual se verificou um crescimento da importância de uma classe senhorial em detrimento dos condados, ditaria o abandono dos castelos roqueiros tradicionais e a construção de outras estruturas defensivas mais funcionais.
Não muito longe do local anteriormente referido encontra-se a Pedra dos Mouros, ponto de observação estratégica - constituído por três grandes blocos graníticos que formam local privilegiado, apresentando um “tecto” escavado - que poderia ter sido incluído na estrutura defensiva medieval, nomeadamente através da aposição (gravação) de uma cruz num plano horizontal, no interior da estrutura, assim como de uma outra gravada na sua face distal (cabeceira).
Por outro lado, acompanhando o caminho antigo que conduzia ao Paiva, num local de entroncamento, deparamo-nos com uma parede de granito amarelo erodido que ostenta um conjunto de cruzes gravadas na rocha.
Embora se lhe atribua o estatuto de marco de propriedade, julgamos que, devido à sua localização ao longo do caminho e ao facto de estarem organizadas num mesmo espaço, estas cruzes representam de facto Alminhas. Para tal contribui ainda a existência das siglas P.N. (Pater Noster) ladeando uma das cruzes, assim como outras, de pequenas dimensões, uma das quais tem uma forma antropomórfica e outra semelhante à da Pedra dos Mouros.
Mais recentemente, no dia 14 de Janeiro do corrente ano, a BioAlva continuou as acções de prospecção na margem esquerda do Paiva, onde se observam, como já referimos, estruturas visivelmente arruinadas que preenchem uma grande extensão ao longo daquela margem, bem como à superfície da vertente que a encima e que é extremamente escarpada. Na tentativa de se dirigir a esse local (e ao qual não se chegou ainda), os membros da BioAlva descobriram três mamoas, um castro e um povoado tardo-romano a altomedieval, vestígios de sepulturas escavadas na rocha (que serão as primeiras descobertas na região do Baixo Paiva), assim como uma mina de extracção de minério. Foram diversos os fragmentos de cerâmica encontrados à superfície, de entre os quais se destacam não só fracções de tegulae e de ímbrices, mas igualmente uma tampa e outros vestígios da mesma matéria-prima; provenientes de uma das mamoas, quase completamente destruída pela abertura de um caminho, foram recuperados à superfície sílices talhados, sobretudo micrólitos, e outros vestígios de cerâmica, muito fragmentados.
Todo este conjunto arqueológico se implanta num cabeço que, pela sua morfologia, se assemelha ao local do achado de dia 31 de Outubro (a que já aludimos supra), encontrando-se fronteiro a este, no outro lado do rio Paiva.
É de registar que algumas estruturas descem pela encosta, constituindo pequenos patamares humanizados ao longo de uma escarpa aparentando outros vestígios de construções possivelmente habitacionais e de forma circular; se se seguisse a sua pendente, chegar-se-ia certamente ao local onde a tradição oral implanta a ponte romana supramencionada e de facto há nesta pendente um caminho que leva a um local do rio onde há dois arranques de uma ponte que já não existe e que daqui segue o caminho, que continua muito escarpado, até ao alto da encosta oposta, na margem direita do Paiva, que é onde fica actualmente Alvarenga. A população usou até meados do século passado este caminho e uma ponte que fazia uso dos referidos arranques
[2]. Sabe-se que os Romanos construiam as pontes em locais em que a passagem era extremamente difícil, tornando esta o único local de travessia possível e de pé seco. Este é um sítio de fortíssimas correntes que projectaram o rio Paiva além-fronteiras como um dos melhores rios para fazer rafting, sendo ainda considerado como o melhor ponto de passagem de todo o rio Paiva.
A prospecção efectuada pelos membros da BioAlva mantém-se, num terreno extremamente escarpado e muitas vezes de díficil acesso, mas continua a mostrar ser um instrumento fundamental para o conhecimento não só do território como do património arqueológico ainda por descobrir tanto na freguesia de Alvarenga como nas freguesias limítrofes.

Anexo 1

ÁRVORE GENEALÓGICA DESDE O SÉCULO V COM THEODORIC I, REI DOS VISIGODOS
PASSANDO PELOS ALVARENGA NOS SÉCULOS XIII E XIV
ATÉ HOJE COM D. ANTÓNIO VASCO DE MELLO DA SILVA CÉSAR E MENEZES

1) Theodoric I, rei dos Visigodos * 417 + 451
2) Euric I Balthes, rei dos Visigodos
3) Alaric II Balthes, rei dos Visigodos + 507
4) Amalric I Balthes, rei dos Visigodos * 502 + c. 530
5) Leovigildo de Setimania Baltes * c. 525
6) Hermenegildo II Baltes * c. 550
7) Antanaguildo Baltes * c. 580
8) Adrebasto Baltes * c. 610
9) Ervigio Favila * c. 630
10) Pedro, duque da Cantábria * c. 660
11) Afonso I, rei das Astúrias * c. 690 + 757
12) Froila I, rei de Leão * c. 725 + 768
13) Froila de Leão * c. 760
14) Bermudo, príncipe de Leão * c. 750 + 842
15) Ramiro I, rei de Leão * c. 770 + 850
16) Ordonho I, rei de Leão * 800 + 866
17) Afonso III, rei de Leão * 838 + 910
18) Ordonho II, rei de Leão * c. 860 + 924
19) Ramiro II, rei de Leão * c. 900 + 965
20) Lovesendo Ramires * c. 940
21) Aboazar Lovesendes * c. 960
22) Ermígio Aboazar * c. 980
23) Toda Ermiges * c. 1000
24) Ermigio Viegas, senhor de Ribadouro * c. 1020 + d. 1047
25) Monio Ermiges, senhor de Ribadouro * c. 1050
26) Egas Moniz, o Aio * c. 1080 + 1146
27) Afonso Viegas, o Moço * c. 1110
28) Egas Afonso de Ribadouro * c. 1140
29) Paio Viegas de Alvarenga * c. 1210
30) Pero Pais de Alvarenga * c. 1230
31) Martim Pires de Alvarenga * c. 1270
32) Inês Martins de Alvarenga* c. 1340
33) João Mendes de Vasconcelos, senhor da honra de Alvarenga * c. 1380
34) Rui Mendes de Vasconcelos, senhor da honra de Alvarenga * c. 1420
35) Joane Mendes de Vasconcelos, senhor de Alvarenga * c. 1480
36) Bernardo de Vasconcelos * c. 1510
37) Guiomar de Vasconcelos * c. 1550
38) Antónia de Vasconcelos e Brito * c. 1585
39) Miguel de Vasconcelos * c. 1610 + 1640
40) Antónia de Melo
41) Miguel Soares de Vasconcelos
42) Isabel Bernarda Maria de Vasconcelos
43) D. Miguel de Abreu Soares Vasconcelos Brito Barbosa e Palha * 1709
44) D. João Domingos de Melo Abreu Soares Barbosa e Palha * 1749 + 1805
45) D. Miguel António de Melo de Abreu Soares de Brito Barbosa Palha Vasconcelos Guedes,
1º conde de Murça * 1766 + 1836
46) D. José Maria de Melo, 2º conde de Murça * 1817 + 1858
47) D. João José Maria de Melo Abreu de Vasconcelos Brito Barbosa e Palha,
3º conde de Murça (irmão do 2º conde de Murça) * 1820 + 1869
48) D. Mariana das Dores de Melo e Abreu Soares de Brito Barbosa Palha de Vasconcelos Guedes, 4ª condessa de Murça * 1856
49) D. António Vasco de Mello César e Menezes, 12º conde de São Lourenço * 1876 + 1928
50) D. António Vasco José de Mello da Silva César de Menezes, 4º marquês de Sabugosa * 1903
51) D. António Vasco de Mello da Silva César de Menezes, 14º conde de São Lourenço * 1931
52) D. António Maria de Mello Silva César e Menezes, 13º conde de Sabugosa * 1959
53) D. António Vasco de Mello da Silva César e Menezes

Notas de roda pé

[1] A confirmar-se pertencer a uma lâmina ou raspador este fragmento de sílex, tal levará certamente ao recuo da cronologia relativa apontada para este sítio, colocando-a num horizonte do Neolítico Final ou do Calcolítico.
[2] Este caminho também foi descrito por Madureira (1907)

Bibliografia

- Barroca, Mário Jorge – «História das Campanhas», in Teixeira, Nuno Severiano; Barata, Manuel Themudo (dir.), Nova História Militar de Portugal, Vol. 1, ed. Círculo de Leitores, Lisboa, 2003, pp. 30 e 73.
- GONZÁLEZ, José Avelino Gutiérrez – Peñaferruz (Gijón). El Castillo de Curiel y su Territorio, VTP Editorial, Ayuntamiento de Gijón, Gijón, 2003.
- Madureira, Manuel Pinto de Paiva – «Alvarenga. Monographia d’esta parochia», in Gazeta de Arouca, n.º 78, 17 de Fevereiro de 1907.
- Mendes, António – Alvarenga, Esboço de Uma Monografia, ed. do autor, 1995, pp. 110-113.
- RODRIGUES, Miguel; REBANDA, Nelson - «Cerâmicas Medievais do Baldoeiro (Adeganha – Torre de Moncorvo)», in 1as Jornadas de Cerâmica Medieval e Pós-Medieval de Tondela, Tondela, 1992, pp. 51-66.
- SILVA, António Manuel S. P.; Ribeiro, Manuela C. S. – «A intervenção arqueológica em S. João de Valinhas (Arouca, Aveiro). Do povoado castrejo ao castelo da Terra de Arouca», sep. de BARROCA, M. J. (coord.), Carlos Alberto Ferreira de Almeida. In memoriam, II, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1999, pp. 363-374.
- SILVA, António Manuel S. P.; Menéndez, Jorge Argüello; Cavalheiro, José T.; Ribeiro, Manuela C. S. – Elementos paleometalúrgicos do castelo de Valinhas (Arouca, Portugal), Cadernos do Centro de Arqueologia de Arouca, N.º 1, Arouca, 2002.
- Silva, António P. da (coord.) – Memórias da Terra. Património Arqueológico do Concelho de Arouca, Arouca, 2004, p. 351.